Artigo: O textão e a aversão à leitura

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Por: Prof. Sérgio A. Sant’Anna

Retorno das aulas, segundo semestre, indagações cotidianas pertencentes ao universo escolar. Porém, não faço das minhas aulas de Língua Portuguesa, Literatura ou Redação a perpetuação fóssil de regras usadas apenas para a memorização (quem memoriza esquece), uso a língua cotidiana, nada mais objetivo que ela possa ser trabalhada com elos possibilitadores ao discente, o enxergar à sua trajetória diária representada através das rigorosas e fartas, culturalmente, regras gramaticais.

Filmes, livros, músicas, séries, jornais, depoimentos, são contextos para que a Língua Portuguesa floresça e demonstre aos meus alunos o poder cotidiano que eles possuem, e que a Língua não é apenas para o uso exclusivo de uma parte da população (os doutos). Além disso, sou propositor da reflexão, do ato de pensar e da argumentação alicerçada, da necessidade do discente manifestar suas teses; portanto, este é um caminho que faço questão que o aluno percorra em busca do texto perfeito.

Em uma dessas aulas falando sobre a importância do substantivo e suas funções, adentramos ao grau (aumentativo e diminutivo) e a palavra “texto”, depois de sua definição denotativa, sua história e sua importância diante da Língua, sofre a metamorfose e se transforma em “textão”, neologismo que ganha dimensões hercúleas diante da bolha das redes sociais. É execrado pelos facebookianos, todavia essa aversão ganha adeptos pelo número de analfabetos funcionais e não-leitores, pseudoleitores acovardados diante da informação manipulada pelos textos expositivos. Neste ínterim, os alunos, muitos, despejaram sua insatisfação ao ter que ler nas redes sociais (às vezes o único lugar em que a leitura sobreviva em sua vida, além daquilo que chamam de obrigação escolar – este um outro assunto a ser ressaltado em outro artigo de opinião) o maléfico “textão”. Apesar das minhas inserções, justificativas, argumentos parece que o “textão” é uma penitência, funciona como um elemento de tortura, punição, nele deposita-se o absurdo.

Interessante que essa situação não acontece apenas com esses alunos, faz parte do cotidiano de dezenas de milhares brasileiros (já escutei relatos de acadêmicos que evitam os abomináveis “textões”, sejam eles virtuais ou não). Esse fato é o “selfie” do momento brasileiro, uma vez que 52% da população nacional enquadra-se no rol dos analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que leem, entretanto não conseguem interpretar aquilo que leram por mais simples que seja. O que faltou? Mais leitura, pois o conhecimento é o decifrador da denotação e conotação impressa no texto. Lendo é que se aprende a interpretar textos; quanto mais se lê, mais o meu repertório se expande. Como pais, professores, paradigmas, somos obrigados a mostrar aos nossos (filhos, seguidores, alunos, amigos virtuais etc.) a importância da leitura, a importância da absorção do conhecimento, a importância da expansão do pensar. Não podemos virar reféns da ascensão tecnológica e a passividade da zona de conforto. O ato de ler não se restringe aos livros físicos, perpassa pelos filmes, pelas imagens, pelas séries, pelas músicas, pelas danças, pelo teatro, pelo bate-papo com os colegas e amigos, além do rolezinho ao final de semana. E hoje perdemos essa capacidade de buscar e trocarmos informações através do diálogo. A máquina transformou-se em nosso interlocutor e aquilo que lemos.

Há a reclamação que os clássicos estão ultrapassados, são cercados por palavras arcaicas, são densos, porém existem possibilidades diversas em relação aos livros e suas leituras, além da ferramenta internet e o seu mostruário de textos e informações, caberá ao navegador ser orientado para que não naufrague diante desse infomar.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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